No seu livro “O Dilema da Inovação”, Clayton Christensen categorizou três tipos de inovação: a que ele chamou de “melhorias de performance”, que substitui antigos produtos por modelos novos e melhores; as “inovações de eficiência”, que faz com que produtos já estabelecidos sejam vendidos melhores e por maiores preços; e, por fim, as inovações “market-creating”, que transformam produtos caros e complicados tão radicalmente que acaba criando uma nova classe de consumidores, ou um novo mercado. A partir dessas definições e dos principais cases de sucesso na área de tecnologia, podemos fazer algumas hipóteses sobre de onde vem a inovação, organizadas livremente em escolas de pensamento:
- Emocional, de Marty Cagan: o criador do Silicon Valley Product Group chamou seu livro de “Inspired: How to develop products costumers love”, ou seja, “como desenvolver produtos que as pessoas amam”. De acordo com ele, as pessoas irritadas definem o futuro da tecnologia. Quanto maior o nível de raiva ou frustração que o setor causa ao cliente (como telecom, bancos, burocracia, empresas aéreas, planos de saúde etc), maior a chance de sucesso do produto que resolva esses problemas.
- Mecanicista, de Steve Blank: o foco do pesquisador norte-americano está na startups e, neste contexto, ele diz que a inovação não é apenas implementar uma ideia criativa, mas procurar uma forma de transformar algum aspecto da ideia em alguma coisa que os consumidores querem tanto que pagariam para ter. Para ele, portanto, a ideia é irrelevante. Blank traz uma visão de empirismo extremo, na qual existe um processo sistemático de experimentos e validação de hipóteses que fará com que você chegue a alguma coisa de sucesso, se você estiver em um mercado suficientemente grande. O problema é que você pode ficar sem dinheiro antes de terminar esta trajetória e chegar na validação do seu modelo de negócio. Para atacar este tema, Eric Ries trouxe o movimento Lean (traduzido como enxuto) para estender o trabalho de Blank. A ideia é que você deve ser o mais enxuto possível para ser eficiente nesta busca e conseguir chegar ao ajuste produto x mercado antes que o dinheiro acabe.
- Financeira, de Steve Denning: se apoiando no trabalho de Christensen, Denning afirma que a raiz do problema da falta de inovação de mercado é que as variáveis pelas quais os executivos são avaliados são relacionadas a lucros de curto prazo, e não sobre ROIC ou ROA (Retorno sobre Capital Investido e Retorno sobre Ativos). Para o autor, a falta de inovação é uma interpretação errada do papel da firma, que causa foco no curto prazo. A falta de atenção no longo prazo fez com que o retorno médio sobre ativos de 1965 a 2009 em toda economia americana caísse de aproximadamente 7% para 1,3% (segundo o índice Shift da Delloite). A falta de inovação de mercado e a busca de ganhos de curto prazo faz com que se precise de cinco vezes mais capital para ter o mesmo retorno financeiro. Se medimos a coisa errada, induzimos o comportamento errado e temos o resultado errado.
- Cultural, de Mark Zuckerberg: quando dizemos que o Facebook tem uma “Cultura de Hacking” a ideia não é que os funcionários ficam invadindo sistemas para se divertir. Hackear um sistema, segundo o Facebook, é entender a diferença entre realidade percebida – ou o que as pessoas acham que são as regras – e a realidade – as regras reais que explicam o sistema. Neste contexto, a inovação aparece quando você hackeia o sistema e faz produtos que entrem nessa brecha. No prospecto do IPO do Facebook, o próprio Zuckerberg definiu o “Hacker Way” como construir algo rápido ou testar os limites do que pode ser feito (“hacking just means building something quickly or testing the boundaries of what can be done”).
- Dinâmica, de Eric Schmidt: no livro “Como o Google Funciona”, o fundador da gigante junta dois fatores para a inovação: a busca por mudança com o uso de talento criativo. Em um mundo no qual as mudanças são cada vez mais numerosas e rápidas, as inovações vêm das próprias pessoas, que o Google chama de “smart creatives”, ou talento criativo. Para esta escola, o problema das empresas atuais é querer minimizar riscos ao invés de maximizar a liberdade e a velocidade. A única forma de inovar, segundo Schmidt, é atrair talentos criativos e criar um ambiente no qual eles possam prosperar com escalabilidade. Para eles, a inovação não pode ser apropriada ou determinada, mas permitida.
- Radical, de Peter Thiel e Elon Musk, integrantes da “Máfia do PayPal”: para Thiel, um negócio inovador deve responder a sete questões: “você tem uma tecnologia que é um avanço?”; “seu “timing” está certo?”; “alguém mais faz isso?”; “você tem as pessoas certas?”; “você pode vender seu produto?”; “seu produto ainda estará disponível em dez anos?”; e, por fim, “você sabe de algo que ninguém mais sabe?”. Segundo eles, quanto mais respostas para essas sete perguntas o seu negócio tiver, mais chance de sucesso ele tem. Mas se você não consegue responder a maior parte das dúvidas, a maior chance é de fracasso.
Para terminar, destaco que as “escolas de pensamento” foram livremente criadas por mim, não há nenhum documento que as classifique como tal. Também é importante dizer que inovação em startups é um problema diferente de inovação em uma empresa estabelecida. Entretanto, precisamos observar como grandes nomes do mercado enxergam a questão de inovação e ideias no setor de tecnologia, e a simples reflexão de todos esses pensamentos pode ajudar, e muito, você a encontrar seu próprio caminho.
—–
Artigo publicado no iMasters.